O IFRN
Campus de Apodi está realizando o 2º EXPOTEC e dentro da programação hoje por
volta das 9 horas teve uma palestra mesa-redondo facilitada por: Emerson
Fernandes Daniel Junior - diretor geral do DNOCS e Bernadete Maria Coelho
Freitas da FAFIDAM-UECE, na oportunidade os mesmos expuseram sobre o tema:
desafios e perspectivas do perímetro irrigado Santa Cruz na chapada do Apodi.
Até que enfim, o Campus de Apodi resolveu fazer um debate de um assunto que já
é debatido em outros estados e também fora do Brasil.
A
professora Bernadete iniciou apresentando os principais desafios e problemas
existentes nos perímetros irrigados, principalmente, na chapada do Apodi do
estado do Ceará tendo em vista que é nesses espaços onda a mesma desenvolve as
suas pesquisas de doutorado. Em sua fala ficou cada vez mais evidente o descaso
e a impunidade, onde os que detém a força - política, policial e econômica - é
quem manda e tratoram e desrespeitam os agricultores e trabalhadores. Ao fim da
exposição enfatizou a maneira erronia com que esses perímetros são instalados e
apresentou a solicitação do procurador federal de paralisação das obras do que
estar sendo implantado na chapada do Apodi no Rio Grande do Norte por
desrespeitar, principalmente, os processos e modificações do projeto sem
debater com a sociedade.
O diretor
do DNOCS, Emerson Fernandes que falou em seguida, iniciou sua fala
engrandecendo o governo federal e desqualificando a da professora ao
enfatizar que os perímetros implementados pelo DNOCS não faz uso de agrotóxicos
da forma que a educadora havia exposto. Esbanjou elogios, por demais, ao
projeto da chapada do Apodi, assumiu que o projeto já teve varias modificações
- vale salientar que as modificações lá existentes foram as que outrora haviam
sido questionadas pelo movimento social organizado. Falou muito, apresentou as
diversas vantagens que o projeto de irrigação da chapada do Apodi - denominado
de projeto da morte - trará para os seus envolvidos e idealizadores.
Aberto
para as perguntas e questionamentos dos participantes, dentre outras e fechando
o primeiro bloco de perguntas um agricultor da comunidade Palmares fez o
seguinte pronunciamento: "moro na comunidade Palmares, é um projeto da
Força Sindical onde vivem 28 famílias assentadas. tenho um lote de 12,8 ha de
onde tiro o sustento da família e produzo alimentos para os animais como,
também, já cheguei a possuir mais de 100 cabeças de animais nesse lote. Essa
pergunta é para todos que estão aqui: com essas potencialidades, é possível um
técnico do DNCOS afirmar que essa é uma área improdutiva?"
Ao
responder aos questionamentos o diretor do DNOCS disse que não tinha
compreendido o questionamento e que não tinha nenhum conhecimento de nada dessa
comunidade e o agricultor repetiu o questionamento: "Essa pergunta é para
todos que estão aqui: com essas potencialidades é possível um técnico do DNCOS
afirmar que essa é uma área improdutiva?" e acrescentou: "temos até
um boletim de ocorrência (BO), pois a empresa contratada pelo DNCS para
executar as obras do perímetro invadiu lotes sem autorização, derrubou arvores,
fez escavações e dizer que não tem conhecimento é um absurdo!" Nesse
momento um profissional do DNOCS por nome de Bartolomeu pegou o microfone e
disse: "diretor esse homem/agricultor estar mentindo, fizemos vistoria e
lá não tem plantado nenhum pé de alface".
O
pronunciamento desse profissional - se é que pode receber esse nome - causou um
visível mal estar entre os presentes. Ao termino do evento, já quase 13 horas,
com a problemática do tema o debate foi prolongado, perguntamos para o
"batalhão do DNOCS" que estava lá se o Bartolomeu não ia se desculpar
com o agricultor, eles nada responderam e apressaram o passo para sair mais
rápido do local. Causa indignação ver a que ponto chegou o trato com a
agricultura familiar nesse País. Chega a revoltar o cinismo desses indivíduos
que se apropriam daquilo que deveria ser para promover o bem comum e se auto
promovem.
Diante
disso questionamos: O que vamos fazer? Vamos ficar olhando o DNOCS passar
tratorando e desqualificando a fala dos agricultores num espaço público de
debate e de educação? Permitir que a soberania e os direitos desse povo seja
espoliada? Qual a posição dessa rede que tem como fundamento defender os
direitos e a qualidade de vida dos agricultores e agricultoras no Semiárido
Brasileiro Potiguar?
Desejamos
que de fato aquilo que denunciamos na Caravana Agroecológica e Cultural da
Chapada do Apodi possa eclodir em todos os cantos e recantos, pois como bem
sabemos, a problemática do Apodi é a mesma em muitos outros lugares, só que com
nomes diferentes: eólica, bel monte, trans-nordestina, usina nuclear, terra
indígena, atingidos por barragens... (a lista é infindável).
Contamos
com o posicionamento e apoio de vocês.
Atenciosamente,
Yure Paiva
Assessor Pedagógico/ASA Potiguar